terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Etapa 4 : O ensino da Matemática na educação de adultos

ATIVIDADES PRÁTICAS SUPERVISIONADAS
                                             
 Alice de Assiz Silva – RA: 1107320547
Ana Carla G.de Oliveira – RA: 2547457593
Clarice Batista Braga – RA: 1018839280
Dilene  Rosinei  N. dos Santos – RA: 2547451231
Jucileide  Araujo   de almeida – RA:3218527438


Professora :Erika costa
Disciplina: Matemática



PASSO 1

O ENSINO DE MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS


O ENSINO DE MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Newton Duarte

Editora Cortez – 9ª edição

Prefácio

            O ensino de matemática para alfabetizandos adultos tem sido uma área quase que totalmente abandonada. Aqueles que trabalham com educação de adultos têm, em geral, um receio em relação à matemática e, em sua maioria, consideram o ensino para adultos um problema secundário, ou, pelo menos, como sendo um problema não pertencente à sua área de atuação. As tentativas de superar esse abandono quase sempre têm se reduzido a adaptações precárias de metodologias criadas para o ensino infantil.
            No início de 1983, apesar de estar iniciando o curso de Pedagogia, aceitei o desafio de dar alguns passos na exploração dessa área. Desenvolvi com base as análises que vinha fazendo, uma experiência com funcionários na UFSCar, alfabetizandos do Segundo Projeto de Alfabetização de Funcionários (agosto/84 a junho/85), realizado pelo Programa de Educação de Adultos.
            Apresento aqui uma primeira versão (parcial e provisória) de uma proposta metodológica de ensino resultante dessa experiência. Meus planos iniciais eram os de chegar a um estágio de maior elaboração dessa proposta, para então divulgá-la. Ocorreu, porém, que com os debates, tanto com os integrantes da equipe do Programa de Educação de Adultos como com educadores de diversas partes do país (através de apresentações em congressos da área educacional) verifiquei que o trabalho de elaboração/reelaboração da proposta poderia ser bastante enriquecido se um número maior de educadores pudesse apresentar suas críticas e sugestões. Para ampliar o número de “debatedores”, comecei divulgando o trabalho através de publicações em revistas especializadas. Sobre a primeira unidade da proposta metodológica foram publicados textos nas revistas: Educação & Sociedade, ANDE e Cadernos de Educação Popular. Um texto sobre a segunda unidade e outro sobre a terceira estão sendo analisados pelos comitês editoriais de outras revistas.
Muitos educadores começaram então a solicitar que eu publi­casse a proposta integralmente, para facilitar o acesso à mesma. Alguns argumentaram que, por mais provisória que fosse a pro­posta, sendo o campo tão inexplorado, os educadores que traba­lham com educação de adultos poderiam começar a utilizá-la em caráter experimental, o que já seria um avanço em relação ao atual estágio em que se encontra o ensino de matemática para alfabetizandos adultos.
Um outro fator, que extrapola o campo da educação de adul­tos, também contribuiu para que eu me decidisse pela publicação deste livro. Trata-se do debate que vem sendo travado sobre a dimensão política da educação. Neste livro procurei iniciar uma reflexão sobre a dimensão política do ensino de matemática para alfabetizandos adultos. O ensino de matemática contribui para as transformações sociais? Como essa contribuição se efetiva (ou não)?
A resposta a que tenho chegado é a de que o ensino de matemática, assim como todo o ensino, contribui (ou não) para as transformações sociais não apenas através da socialização (em si mesma) do conteúdo matemático, mas também através de uma dimensão política que é intrínseca a essa socialização. Trata-se da dimensão política contida na própria relação entre o conteúdo matemático e a forma de sua transmissão-assimilação.
Aliás, essa conclusão não é fruto apenas de meu trabalho, mas de todas as pesquisas que vêm sendo desenvolvidas no Pro­grama de Educação de Adultos, na UFSCar. E essa conclusão, ao invés de encerrar o assunto, levanta a necessidade de pesquisas cada vez mais aprofundadas sobre essa dimensão política intrín­seca à relação entre o conteúdo do saber e a forma de sua trans­missão-assimilação.
Convém esclarecer desde o início que não se trata de "enxer­tar" algo de político ao ensino de matemática. Alguns educadores, no intuito de contribuir para as transformações sociais, têm pro­curado dar um caráter mais politizante ao ensino de matemática. Tais tentativas têm centrado o ensino em torno de temas relacio­nados ao custo de vida, à inflação, a cálculos de reajustes sala­riais, formação de cooperativas, etc. O objetivo aí é o de que a matemática não seja vista separada dos problemas sociais. Essa vinculação entre a matemática e as necessidades sociais é real­mente importante e tem sido destacada por vários autores. No entanto, não se pode perder de vista que o objetivo central da atividade daquele que se propõe a ensinar matemática é o ensino desta. Tal alerta parece desnecessário, mas muitas vezes o ensino do conhecimento matemático propriamente dito acaba relegado a um segundo plano, sendo consideradas prioritárias as discussões e as atividades em torno daqueles temas sócio-econômicos. Isso faz com que o ensino propriamente dito seja desenvolvido assistematicamente, não contribuindo para a socialização do conteúdo matemático. Assim, as camadas populares continuam sem o do­mínio dessa ferramenta cultural.
No entanto, como já disse, possibilitar a assimilação dessa ferramenta cultural não é suficiente.
Existe ainda aquela dimensão política intrínseca, que pode, inclusive, estar contribuindo para um sentido oposto àquele pro­clamado pelo educador.
A questão é a seguinte: mesmo que nós trabalhemos com afinco no ensino de matemática, procurando contribuir para que as camadas populares assimilem essa ferramenta cultural tão ne­cessária à sua luta cotidiana, nosso trabalho pode estar sendo guiado subliminarmente por objetivos opostos a essa contribuição. É o que ocorre quando, sem perceber, transmitimos, através do fazer pedagógico, uma visão estática do conteúdo matemático, como se ele fosse pronto e acabado, como se ele tivesse sido sempre assim, como se seus princípios e regras fossem absolutos no tempo e no espaço. E procedemos assim com muito mais freqüência do que pode parecer à primeira vista. Um exemplo disso ocorre quando, ao ensinar a técnica operatória da adição, o faze­mos nos atendo somente aos passos da resolução do algoritmo, mas esquecendo de refletir sobre questões importantes como: por que se opera a adição da maneira como todos nós aprendemos? A resposta a isso está nos princípios contidos em nosso sistema de numeração. Mas, de onde surgiram esses princípios? Eles nada mais são do que uma transposição, para a escrita, daqueles prin­cípios já contidos no ábaco, que por sua vez tiveram origem na utilização dos dedos das mãos para o registro de contagens. Se simplesmente ensinamos à técnica operatória da adição, sem nos preocuparmos com as questões apresentadas acima, o que faze­mos é apresentar esse tema como se ele sempre tivesse sido assim, existindo por si mesmo.
Os educandos poderão até aprender a operar adições com facilidade. No entanto, embora tenham aprendido a manipular essa ferramenta cultural, não terão captado o processo de evolução da mesma. Isso é incoerente com a proposta de contribuir para a transformação social, pois, se vemos a matemática estatica­mente, estaremos contribuindo para que esse modo de ver as coi­sas seja adotado com relação ao restante da prática social do indivíduo.
Se pretendemos contribuir para que os educandos sejam su­jeitos das transformações sociais e do uso da matemática nelas, é necessário que contribuamos para que eles desenvolvam um modo de pensar e agir que possibilite captar a realidade enquanto um processo, conhecer as suas leis internas do desenvolvimento, para poder captar as possibilidades de transformação do real.
Não se trata do professor querer ou não que essa dimensão política exista. Trata-se dele dirigir intencionalmente essa dimen­são em função dos objetivos que proclama. Essa dimensão polí­tica sempre existe, pois, falando-se ou não de assuntos tidos como políticos, o ensino de matemática desenvolve uma postura nos agentes nele envolvidos e esta tem reflexos no restante da prática social desses agentes.
Desde o inicio da experiência eu já estava alertado para o fato de que nenhum trabalho de ensino é miraculoso; as transfor­mações são lentas e nem sempre facilmente visíveis. De maneira nenhuma eu esperava que, pelo simples fato de estar desenvol­vendo essa proposta de ensino com aqueles alfabetizandos, eles fossem mudar radicalmente seu modo de ser. Já estava "vacina­do" contra esse messianismo que muitas vezes toma conta daque­les que trabalham em educação de adultos. Talvez justamente por não me iludir com esse tipo de fantasia, é que pude observar pequenas, mas significativas mudanças. Por exemplo, quando o educando, ao calcular no ábaco, compreende que o "vai-um" e o "empresta-um" formam um mesmo movimento, com sentidos opos­tos, e então passa a realizar com mais facilidade a subtração. Ora, isso é um momento em que o educando está exercitando um modo de pensar que trabalha com relações, ao invés de ver as coisas de forma estanque e segmentada.
Com a continuação de minha pesquisa, pretendo analisar com mais detalhes e em maior profundidade esse tipo de implicação social do ensino de matemática, buscando compreender a relação entre cada pequeno procedimento pedagógico e o processo por meio  do qual o ser humano torna a matemática um dos instrumen­tos de transformação da sociedade.
Cabe agora aos leitores analisarem em que medida essa pro­posta metodológica caminha no rumo pretendido.


            Newton Duarte
Universidade Federal de São Carlos
Programa de Educação de Adultos
São Carlos - SP           

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